sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Adeus Sines!O Centro Emissor da Deutsche Welle em Portugal Encerra


Adeus Sines! O centro emissor da DW em Portugal encerra

 

A DW construiu a estação no ano de 1970 em plena guerra fria. Teve muita importância estratégica durante décadas, mas vai deixar de transmitir a partir do dia 30 de outubro de 2011. Saiba mais sobre a história de Sines.


Foi no mês de Junho de 1970, que a Deutsche Welle inaugurou o centro emissor de onda curta de Sines. Hoje as antenas da emissora estão na vizinhança da central termoeléctrica e das fábricas do pólo industrial de Sines. Porém, naquele ano da inauguração, 1970, a vila de Sines – situada na costa alentejana – não dispunha então de indústria, o porto de águas profundas ainda não existia.

Na altura ainda não existia a possibilidade de usar satélites para passar o sinal áudio dos estúdios da Alemanha aos emissores em Sines. Assim, a Deutsche Welle, a Voz da Alemanha, montou uma estação receptora em Sesimbra, cerca de 50 quilómetros a norte de Sines. Mais tarde, em 1990, foi encerrada a estação de Sesimbra, já que o sinal passou a ser distribuído por satélite.


"Era para melhorar as condições técnicas para receber as emissões da DW lá nas partes da Europa do Leste. As emissões da DW até essa data foram feitas da estação da DW em Jülich", explica Hans-Josef Klein, que entre 1973 e 1975 foi o chefe da administração da emissora em Sines.

Ele explica por que razão esta opção por este território da costa alentejana: "Das condições geográficas Sines era e é um lugar ótimo para transmitir emissões de rádio em ondas curtas, por causa da distância até à Europa do Leste, especialmente à então União Soviética e outros países para os quais a DW fez e faz emissões."

Em pleno regime salazarista, no Estado Novo, Portugal oferecia condições ideais para isso. Mas, foi preciso obter licença para criar a Rádio Trans Europa, uma empresa criada para gerir a estação emissora em Sines. Mais tarde, a estação passou a ser administrada pela Profunk, empresa filial da Deutsche Welle, que até hoje representa os interesses da rádio internacional alemã em Portugal.

Além das condições técnicas e geográficas, a aposta em Portugal fazia parte da estratégia de países ocidentais, como a Alemanha, para travar o avanço do comunismo no mundo.

A partir de Dezembro de 2009, já numa outra era, o senhor Klein – como é aqui chamado – volta a assumir a direção da Estação em Sines. Lá trabalharam 16 pessoas pela DW, técnicos e engenheiros, que mantiveram os serviços 24 horas por dia.

Um caminho de má qualidade conduz à estação e as antenas rotativasUm caminho de má qualidade conduz à estação e as antenas rotativasOnda Curta Digital - a modernização da estação

O engenheiro João Rodrigues trabalha na estação desde 1990, ainda no tempo dos antigos emissores Marconi. Mostra-nos, onde é recebido o sinal para as emissões: "A nossa cabine satélite é onde temos os nossos receptores, onde recebemos todas as emissões vindas dos vários satélites. Tem de estar neste ambiente protegido para não haver interferências."

Na cabine estão presentes várias gerações de equipamentos para receber vários canais, diz João Rodrigues: "Temos os canais da DW, temos canais da BBC, temos canais da BABCOCK, temos alguns canais que é o stream do DRM – Digital Radio Mondiale, que é uma emissão digital de onda curta em que o ouvinte pode ter uma qualidade semelhante ao FM ou semelhante ao CD."

O equipamento moderno é o resultado de vários investimentos na estação desde 1992. "Houve então o up-grade dos emissores, que são automáticos, poupam energia. Para além disso também foram instaladas três antenas – primeiro duas antenas rotativas; um pouco mais tarde uma terceira antena rotativa, que nos permite emitir para qualquer parte do mundo", conclui João Rodrigues. "Digamos, temos um ângulo de 360 graus."

Com as antenas rotativas, Sines começou a transmitir para África e a América Latina. Assim, a DW conseguiu prolongar o tempo útil da estação. Pois, com o fim do comunismo no Leste da Europa, as emissões para esta região perderam importância.

A sala dos emissores de Sines - os aparelhos podem emitir em onda curta analógica e digital (DRM)A sala dos emissores de Sines - os aparelhos podem emitir em onda curta analógica e digital (DRM)Entre 1999 e o ano 2000, têm início então as emissões em DRM, tendo o centro sido pioneiro na implementação desta tecnologia digital em onda curta. Pelo rigor e capacidade técnica, Sines veio a ocupar o primeiro lugar nas estatísticas de performance da DW de estações equiparadas.

Francisco Milho, operador rádio, cumpre o turno do dia. Com 20 anos de casa, ele mostra-nos a sala que comporta os três emissores de maior rentabilidade. "Estes equipamentos são os novos, vieram substituir os emissores antigos Marconi. São de uma nova tecnologia, equipamentos mais modernos, mais fiáveis."

Para além da DW, muitas outras estações também emitiram de Sines

Equipamento que também foi usado nos últimos anos por muitas outras estações para além da DW. A sua congénere portuguesa, RTP, usou os emissores para transmissões da RDP Internacional durante décadas e mesmo depois de ter suspendido as suas outras emissões por onda curta em meados de 2011.

Um cartão QSL para confirmar a receção de emissões da DWUm cartão QSL para confirmar a receção de emissões da DWNos mais de 40 anos de existência de Sines, os emissores da estação foram alugados por muitas rádios internacionais: emissoras cristãs como a Rádio Renascença, IBRA Rádio ou a Adventist World Radio – AWR e por emissoras internacionais como a RCI – Rádio Canada Internacional e a NHK – a Rádio Japão.

Mesmo com o abandono da onda curta por muitas estações, para Carlos Mourato, operador rádio-técnico e há muitos anos técnico da estação de Sines, a onda curta continua a ter uma importância vital: "Isto porque o alvo principal das estações de ondas curtas são aquelas pessoas que não têm acesso aos modernos meios de multimédia e que são muitas centenas de milhões a nível de África, da América do Sul, de Ásia. Com o encerramento das estações de ondas curtas vêem-se privadas de uma informação credível e independente."

Menos emissões de rádio, menos onda curta

As emissões da DW para a Europa e a América Latina em onda curta terminam no dia 30 de outubro, dia em que a DW deixa de transmitir em alemão. Houve também muitos cortes em outras línguas. Mantêm-se no futuro apenas as transmissões em onda curta para o continente africano – em português, inglês, francês, suaíli, haúça e amárico – e as emissões em mais algumas línguas asiáticas como pashtu e dari para o Afeganistão.

As emissões da DW em alemão terminam e assim há menos emissões para Sines (aqui estúdios da DW em Bonn, Alemanha)As emissões da DW em alemão terminam e assim há menos emissões para Sines (aqui estúdios da DW em Bonn, Alemanha)Como muitas outras rádios internacionais também abandonaram ou diminuíram as emissões por onda curta, sobram poucas emissões. Tão poucas que a DW decidiu manter das suas três estações apenas uma: Kigali, no Ruanda, que serve o continente africano. Os emissores em Sines, Portugal, como também em Trincomalee no Siri Lanka, serão encerrados.

Em tempo de crise, como nos confirmou Hans-Josef Klein, o plano estratégico da Deutsche Welle para os próximos quatro anos obriga a isso, de modo a concentrar os recursos para a reorganização, apostando na rádio apenas para África a algumas partes da Ásia, bem como na televisão e na internet no resto do mundo.

Decisão que deixa os trabalhadores tristes e com saudades, já que perderam o seu emprego. Dona Gertrudes, empregada desde Setembro de 1970, tem saudades do ambiente de trabalho e lamenta o encerramento da estação emissora de Sines da DW: "A minha relação com as pessoas foi sempre boa e de muita saudade de todos. O ambiente de trabalho aqui foi sempre bom, sempre… tanto para mim como para os meus colegas."

Dito isto, a partir de 30 de outubro, haverá silêncio nas frequências operadas até agora desde Sines. As emissões em português serão asseguradas pelos emissores da DW em Kigali e por outras estações alugadas.

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